Capítulo 1
A Piscina Engole Minha Melhor Amiga
Ninguém merece acordar
pela manhã para ir à escola um dia antes de serem as férias de Julho. Não que
as férias fossem ruins, nunca. Mas ir a escola sabendo que no dia seguinte eu
ficaria em casa, só me dava mais vontade de ficar em casa. Mas Sandra nunca me
deixaria ficar na cama. Já havia usado o truque de ficar doente na semana
passada. E que eu estava com cólicas na segunda. Nossa, meu estoque de idéias
acabaram! Não sei como me livro disso. E se eu matar aula... A Diretora me
mata. Sei que vou passar só com um milagre. É a metade do ano, mas eu ainda
preciso de uns 200 de nota para passar de ano. Isso é muito para quem tirou na
prova de 10.0 Uma nota parecida com isso: 1.2. Sim, tirei doze numa prova de cem.
Isso não foi minha pior nota no ano. Mas que se dane eu quero mesmo perder essa
maldita bolsa de estudos que meu pai arranjou, pra voltar pro colégio público.
Odeio isso de ter que usar saia no uniforme e não poder prender os cabelos
porque mostra os ombros. Mas que raios de sensualidade têm nos ombros! E olhe
que as irmãs são até legais... bem, elas são muito legais, mas em comparação às
regras...
Sandra me gritou para
levantar novamente. Não, Sandra não é minha mãe. Ela nem se quer gosta de mim.
E eu não gosto dela. Novidade. Madrasta má, e a pobrezinha aqui. Bom, não que
eu ligue muito por quem meu pai se apaixona, mas fala sério! Tinha que ser
justamente a Sandra! Mas tudo bem. Estas férias eu vou passar na casa da
Talita. Isso já muda minha vida. E muito. Meu pai é um homem trabalhador e
sempre trás todas as semanas o dinheiro para que Sandra compre nossos alimentos
e o que precisamos. Mas ela prefere comprar roupas e sapatos para ela, e diz
que eu como no colégio. Muito engraçado, pois no meu colégio nada é de graça. Às
vezes eu penso que aquele colégio é como um assalto. A mensalidade é muito
grande, e tudo que você vai fazer de legal (Comer, ir para passeios na Chácara,
ou qualquer outro lugar).
Sem contar que a
condução também é paga. Meu pai paga para que eu não tenha de ir ao Colégio de
ônibus. O que é muito perigoso. Principalmente quando o colégio é bem no centro
de Brasília. Temos que usar saia, como já mencionei, e os ombros também não
podem aparecer. O tênis tem que ser preto e não se podem usar saias que são
menores que a altura dos joelhos. O nome do Colégio é Centro Católico Para
Meninas de Brasília (ou CCC). Eu sei, um nome muito original. Mas ele faz
sucesso. É considerado o melhor colégio de Brasília. O CCC é o colégio em que
meu pai sempre sonhou em me por. E é o colégio em que eu menos quero estudar.
Sabe, peruas e patricinhas estudam aqui. Mas não as patricinhas comuns. Filhas
de empresários muito famosos. Sobrinhas do Prefeito... Só gente muito rica.
Coisa que eu nem de longe sou. Mas, para eu não me sentir tão excluída assim,
também têm uma garota lá que não é de alta classe, como eu. Talita Gregore. Ela
é meio que... A filha do zelador. Não, ela é totalmente a filha do zelador.
Sim, todo mundo não gosta do pai dela. Bom, nem eu. Ele é meio chato e alem
disso, é o único funcionário homem do colégio. Mas eu tento ser legal com ele.
Talita também nem sempre tem o que comer em casa. Mas ela tem um pai e uma mãe
que a amam muito. Uma coisa que eu não tenho. Talita é meio gordinha. O que não
a deixa feia. Mas acho que as meninas da sala não gostam disso. Mas tudo bem,
eu não preciso ligar para o que elas acham. Como Talita disse para eu fazer.
Mas é difícil. Principalmente por que eu sou a única amiga dela. E isso gera
fofocas a meu respeito, também.
Levantei da cama e
consegui me arrastar até o banheiro do corredor. O cheiro do pão recém-assado
invadia a casa toda. Será que Sandra acordou de bom humor hoje e lembrou de
comprar alguma coisa para eu comer: Acho que isso deve ser alguma coisa que ela
quer conseguir e que eu ou a única que pode dar a ela. Se for isso, é uma
chantagem que eu posso usar contra ela.
Olhei para o espelho.
Uma menina de cabelos ruivos no estilo daquela princesa do filme “Valente”.
Olhos cansados e sonolentamente azuis. Um nariz um tanto arrebitado, que não
combinava com suas treze sardas em volta dele. Eu odeio minhas sardas. Mas
também odeio maquiagem, por isso não posso escondê-las usando pó branco. Tirei
uma remela de meu olho e bocejei. A tortura. Molhei meu rosto. A água mais fria
que eu já havia tocado. Parecia que minha pele estava sendo cortada por
lâminas. Passei sabonete no rosto. O cheiro me enjoava, mas era o que tínhamos.
Molhei novamente o rosto. A coisa que eu mais odeio na vida é a água. Pode
estar fria ou morna. Até mesmo pelando. Mas eu odeio água. Mas isso não é
motivo para eu não tomar banho! Eu sou muito limpinha, obrigada. Sai do
banheiro e fui comer o pão que cheirava tão bem. Comi com gosto. Não havia
jantado na noite passada, por isso estava morrendo de fome agora. Não havia
manteiga ou requeijão, ou qualquer outra frescura. Era somente o pão, puro. Mas
para quem nunca tem o que comer de manhã, ou é a primeira vez no ano que come
pão que não está duro, está muito bom. Na verdade, está ótimo. Acho que Sandra
estava feliz hoje pois eu ia para a casa da Talita depois da aula, e só
voltaria para casa depois das férias.
- Já fez suas malas?
- perguntou.
- Fiz ontem à noite.
– falei com a boca cheia de pão.
- Hum. – resmungou
como se não quisesse saber quando eu
havia arrumado, somente se havia arrumado.
Não havia mais nada
para tomar, a não ser a água da torneira. Mas tinha sempre um gosto meio
estranho, por isso eu só tomava água na escola. Limpei as migalhas que ficaram
presas na minha boca e corri para o quarto. Eram 6:43, com quarenta e três
minutos passam correndo! Tirei minha camisola e coloquei a saia do colégio, que
era azul marinha e com a insígnia do colégio. A camiseta era branca com um
detalhe amarelo e a insígnia o colégio. Não precisava colar o sutiã, pois havia
dormido com ele, para ganhar tempo. Comece a pentear os cabelos com a escova. E
logo meu cabelo armado num caminho de ratos estava tão reto quanto um daqueles
soldados da Inglaterra. Amarrei os cabelos num rabo-de-cavalo não muito alto. E
peguei minha mochila. Estava mais pesada do que todo o meu material junto. E
olhe que eu carrego muito material. Minhas roupas de verão estavam dentro da
mochila, então tive que me acostumar com o peso a mais nas costas. Quando sai
do prédio das kit nets, notei que havia cometido um enorme erro saindo de casa
sem a jaqueta de couro que havia ganhado de Talita. Ela era muito quentinha, e
estava muito frio hoje.
Fiquei sentada no
ponto de ônibus até minha condução chegar. Era uma van toda cromada, com as
rodas grandes e sempre limpas. A propaganda do colégio e vidros com sufilme
mais escuro que carvão. Quando a porta se abriu, senti o quentinho que estava
lá dentro. Sentei-me na poltrona ao lado de Talita. As outras poucas meninas
que iam com a condução do colégio estavam sempre na parte de trás do veículo.
Quem o dirigia era sempre o pai de Talita. A mochila de minha amiga estava
ainda maior que a minha. Talvez por que havia algum trabalho para fazer que eu
não houvesse lembrado de fazer. Ela estava segurando um pacote de Cheetos e as
pontas dos seus dedos estavam laranja.
- Quer um pouco? -
ela ofereceu.
- Não, eu comi em
casa.
- Ah, hoje a sua
madrasta comprou comida? - ela perguntou.
Encolhi-me na
poltrona. Aquilo não era assunto para as outras meninas ficarem conversando por
ai. Principalmente aquelas meninas. Às
vezes Talita ignorava tanto essa coisa de ser pobre que não prestava atenção
quando dizia alguma dessas coisas em voz alta. Acho que ela ainda não sabia que
eu me importava com isso.
- Fale mais baixo...
– pedi.
Talita deu de ombros
e continuou a comer seus salgadinhos. Sua boca estava cor de laranja, e tinha
farelo até mesmo nos fios de seus cabelos cacheados e castanhos-chocolates. E
sua pele morena estava coberta de migalhas. O agasalho de lã também não foi
deixado de lado, e a cor amarelada já estava ficando alaranjada. Parecia que
alguém havia dado um banho de Cheetos em Talita. Mas quase sempre ela trazia
algum salgadinho para a escola. E sempre ela se sujava. Seu pai não sabia que
ela trazia tantos salgadinhos assim para a escola. Mas eu não contava a ele.
Assim ela não contava para as professoras que eu colava nas provas delas.
O trajeto foi tranqüilo.
Acho que era mais por causa de hoje ser um feriado nas outras escola público,
um feriado que já emenda nas férias. Muito pelo contrário da minha, que não
deixa a gente faltar as aulas, mesmo que seja o feriado de Dia Das Crianças.
Bom, esse tudo bem, por que também é o Dia da Aparecida. Mas eu não sou de uma
família tão religiosa assim. A van logo chegou ao estacionamento do colégio. O
barulho do cascalho embaixo das rodas já nos anunciava isso.
- Acho melhor você
soltar o cabelo. – falou o pai de Talita quando abriu a porta para as meninas saírem
de dentro da van.
Não discuti com ele.
Eu sabia que ele me entregaria para a Orientadora quando eu virasse as costas.
Então soltei o cabelo do rabo-de-cavalo. Eu odiava o jeito que meu cabelo ruivo
era lisíssimo. Até invejava um pouco o cabelo crespo de Talita. Mas ela me dizia
que eu tinha muita sorte de ter meu cabelo tão liso assim. Eu não pensava
assim. Mas também não sabia como era ter que cuidar de um cabelo crespo, então
não fiquei questionando-a.
Desci da van. O Sol
ofuscou um pouco minha visão, mas logo me acostumei ao cenário. Não estava tão
frio assim, como estava antes. O Sol já brilhava e o sinal bateu logo. Às
vezes, em dia de pico no centro da cidade, chegávamos atrasadas na escola. Mas
hoje foi tudo tranqüilo. Porque metade de Brasília estava em suas casas dormindo,
enquanto eu e mais umas duzentas meninas iam para a escola.
Talita me puxou em
direção a sala de aula. Era revisão para a prova de Inglês, que seria depois de
duas aulas. Mas a professora sempre revisava para quem estivesse em duvida.
Bom, eu estava com duvidas em toda a matéria. Bom, eu não sabia por que tinha que
saber sobre a história dos Estados Unidos. Muito menos, por que eu nem iria
usar isso na minha vida. Bem, só se eu fosse fazer intercâmbio lá, o que não
era uma opção descartada. Desde que eu tinha ns dez anos, sempre quis ir para
Nova York, Manhattan, e essas cidades assim. Nova Jersey... Bom, voltando ao
assunto de que eu não sabia nada sobre a matéria da prova. Talita estava atenta
ao que a professora dizia. Ela gostava sempre de responder às perguntas das
professoras. E isso a tornava uma espécie de Nerd-Não-Nerd. Sei que você está
se perguntando se isso existe. Mas se você conhece alguém que sabe tudo sobre a
matéria e que estudou para a prova, mas não tira as melhores notas, então você
conhece alguém Nerd-Não-Nerd.
- O período em que os
Ingleses estavam de olho na América, descoberta pelos espanhóis, gerou
conflitos entre os mares, causando as viagens clandestinas... – Aquilo parecia
mais uma aula de História!
Fiquei arrancando a
tampa da caneta o tempo todo. Atenta para escrever algo em que a professora dissesse:
“Vai cair na prova”. Pelo menos nessa prova eu não havia bolado nenhum método
para colar. As outras meninas estavam enrolando do jeito que podiam. O tempo passava
devagar enquanto eu tentava pegar algumas coisas para decorar na hora da prova.
O relógio apontava oito horas quando o sinal bateu. As outras duas aulas foram
somente para conversar, já que não teria nenhuma matéria. Talita não parava de
falar em como havia programado tudo o que iríamos fazer durante as férias. Em
como iríamos acampar, em como iríamos ver o filme Amanhecer Parte 2 nos
cinemas... Eu não ligava muito para isso. Por mim, um bom passatempo era ficar
assistindo filmes da Sessão da Tarde. Que quase sempre se baseavam em A Lagoa
Azul, ou A Volta da Lagoa Azul. Então, eu basicamente sabia tudo o que fazer
quando me perdesse em alto mar ou caísse de um navio.
Fiquei pensando que
eu não iria ver meu pai nos fins de semana. O que seria muito ruim, pois meu
pai só aparecia em casa aos finais de semana, para ficar comigo os dois dias
inteiros. O que era muito legal. Eu chamava de “Dias Legais Com o Papai e Sem a
Sandra”. Nós geralmente íamos ao Shopping. Embora, geralmente, nunca
comprávamos nada, pois nossa condição financeira não era boa para essas coisas.
Nem percebi o tempo passar
tão rápido. Será que é assim mesmo: Quando precisamos que o tempo passe rápido,
ele fica lento. Quando estamos nos divertindo ou fazendo algo interessante, ele
passa voando. O recreio começou. Mas meus pensamentos ainda estavam na última
vez em que eu e meu pai havíamos saído para passar um dia no Shopping. Nós
tomamos sorvete e conversamos muito. Quando Talita me tirou de meus
pensamentos. Ela puxava meu braço freneticamente, falando que não queria perder
a fila para a Cantina. Falei que ela poderia ir para o Refeitório sem mim, e se
sentar no pé da árvore em que nós sempre nos sentávamos. Eu sabia que ela só
iria falar sobre as nossas férias. E eu mal sabia que nem precisaria ir a essa
tal expedição até a casa de Talita.
Fui para o banheiro.
Ele era sempre limpo. E como só havia meninas no colégio, só havia um banheiro
também. Ele tinha azulejos rosa bebê e branco creme. O piso era parecido com
mármore, mas era só uma imitação. As torneiras eram sempre brilhantes, e o
espelho nunca estava embaçado. Mas hoje o banheiro não estava normal. Eu sentia
uma umidade diferente no ar. Um cheiro de água salgada... e a voz que eu mais
odiava no mundo.
- Haha, estou indo
muito bem, minhas notas estão muito altas... – era Amanda.
Ai, com eu odiava
aquela voz! Amanda Sant’Anna é a menina CDF da sala. E ela não tem amigos. Mas
ela não tem amigos, não por que ela não é sociável, e sim por que ela é uma
chata metida que esfrega na sua cara que é melhor que você em tudo. Bom, como
sempre dizem. Quando você vê que é bom em alguma coisa, chega um japonês.
Amanda é mestiça. Tem os cabelos escorridos como os meus, e os olhos escuros
como a noite. Parecia que ela estava dando descarga. Mas ela falava como se
tivesse mais alguém dentro do banheiro com ela. Escondi-me no banheiro ao lado.
Ela falou mais algumas coisas que eu não entendi como “Protetor” e “Acho que
não é ela”. Quando saiu do banheiro, não parou para lavar as mãos. Esperei
alguns segundos para sair de trás da porta do meu banheiro. O banheiro estava
quieto. Decidi ignorar isso. Talvez ela só estivesse falando com seu ou pai ou
sua mãe ao celular.
Talita já me esperava
impacientemente ao lado da árvore onde sempre lanchávamos. Ela havia comprado
um salgado assado. O que era quase uma rotina. Por ser filha de um funcionário
do colégio, ela podia anotar o nome junto com o que havia pegado, em vez de
pagar direto. No fim do mês seu pai pagava sua conta. O que era bem grande. Uma
vez Talita gastou 80,00 só em lanches e refrigerantes. Não sei por que, mas
hoje ela não havia comprado refrigerante, o que era um milagre.
- Quer um pouco? - Talita ofereceu. Mas decidi
rejeitar.
Não havia muito que
falar. Até pensei em contar a ela sobre o que eu havia visto e ouvido no
banheiro, mas Talita me chamaria de louca. Ela é uma das únicas garotas que não
acha Amanda Sant’Anna uma bruxa. O que é bem estranho.
Começamos a andar por
ai. E decidimos ir para o berçário, ver os bebês fofinhos. Não queria pensa na
prova, e nem nas férias sem meu pai. Muito menos em como teria de agüentar
Talita falando sobre como seria legal todas as nossas férias juntas. Às vezes,
aquela gordinha era chata. Mas os bebês estavam lindos como sempre, pelo menos.
Perto deles, havia um parquinho, somente do berçário. E nele, uma piscina. Não
entendo como bebês fofos e pequenos tem uma piscina, e nós não. Pelo menos
podíamos passear por perto dela. Para variar. Talita começou a tagarelar em
como seria muito legal a primeira noite em que eu posaria na casa dela. Já
estava cansando. Quando avisto minha salvação. Amanda Sant’Anna.
Amanda estava andando
pela beirada da piscina, também. E parecia tão pensativa que nem havia prestado
atenção em nós. Não sei se Amanda tinha alguma irmãzinha bebê no colégio, ou se
simplesmente também gostava de passear por lá, mas estava perto do berçário, o
que me deixava preocupada em relação à saúde dos bebês. Fingi também não estar
notando-a. e nos esbarramos “sem querer”. Ela me lançou um olhar de desacordo e
já ia me agredir verbalmente.
- Olhe por onde anda!
Eu quase caio na água! – reclamou.
- Assim como quase
caiu na patente? - perguntei, deixando Talita calada.
- Como é que é? -
Amanda não entendeu as minhas claras palavras.
- Você-Não-Conseguiu-Se-Afogar-No-Sanitário?
- Falei separadamente para ver se ela entendia a minha língua, ou se só falava
cobranês mesmo.
- Ahn...- ela se
engasgou sem sua própria língua. – é... Bem...
- Você estava fazendo
o que? - perguntei.
Uma expressão de
alívio passou pelo seu rosto, mas logo se foi. E sua expressão de soberania
voltou. Eu odiava aquela expressão. Era meio que inveja, nojo e desprezo, tudo
junto. Ela era bonita, sim, mas ainda era chata. Bom, agia como uma, pelo
menos.
- Vamos, Aliss. –
chamou Talita.
- Não, Tata, eu ainda
quero saber, o que Amanda Sant’Anna estava fazendo falando sozinha no banheiro.
Amanda me discriminou
com os olhos. Sabia que ia começar a discutir que não havia ido ao banheiro
hoje, e que Talita deveria andar com boas companhias em vez de andar com uma
débil mental, como eu. Bom, eu sabia ignorar aquela cobra, mas algo no fundo de
mim me dizia que eu deveria saber o que tanto Amanda escondia. Não que eu
soubesse que Amanda escondia algum segredo. Mas ela era estranha. E isso já me
fazia ficar com medo dela. Algo que raramente costumo achar das pessoas.
- Talita, por que
você não leva sua amiguinha com você agora? - Amanda falou sorrindo falsamente.
- Claro. – concordou
Talita. – Vamos, Aliss!
- Não! – me virei
para Talita. – Você pode parar de bancar a “mamãe”, por favor:
Talita fechou o
rosto. Mas eu não havia dito nada de errado! Mas ela virou as costas para mim e
se pôs a andar. Claro, algo de muito estranho tinha que acontecer. A água saiu
de dentro da piscina, fazendo um tubo, daqueles que os surfistas costumam
surfar. Aquilo foi rápido, mas eu vi a mão de Amanda na direção de Talita. Tudo
que eu precisava confirmar fora confirmado naquela hora. Amanda era sim uma
bruxa. Uma bruxa muito má.
Minha amiga estava
dentro d’água, e eu não podia fazer nada. Eu odiava a água. Não podia pular
naquela piscina para trazê-la de volta para a margem da piscina. Talita estava
a se afogar, e eu fiquei sem saber o que fazer. Até eu ver a cena mais estranha
do mundo. Amanda pulando na piscina para buscar Talita. As duas chegaram a margem,
encharcadas. Talita agradeceu muito a Amanda. E quando me viu, só pode sair sem
nem dizer uma palavra. Espere, eu sou amiga de Talita! Mas sou eu que tenho que
salvá-la! Não Amanda! Aquilo estava muito estranho. Primeiro Amanda faz a
piscina sugar Talita, e de repente ela estava
salvando-a. Agora que Talita não acredita em mim que Amanda é doida. E
isso me deixa um tanto chateada. Se eu conhecia bem aquela Talita, ela nunca
mais me perdoaria. E era tudo culpa de Amanda. Como sempre.
- O que você fez? –
gritei para Amanda.
Ela deu de ombros e
colocou uma mecha do cabelo louro para o lado.
- Eu ajudei a Talita.
O que os amigos fazem. – ela respondeu querendo provocar.
- E-eu não podia
entrar na água. – me defendi.
- E por que não? –
perguntou Amanda.
Aquela garota já
estava me irritando. Queria lançar uma bola de fogo na cara dela! Mas como esse
é o começo, eu ainda não sabia sobre mim. Por isso, eu não podia fazer isso.
Mas... Quando eu descobrir quem eu realmente sou... Aguardem-me.
- Eu vi você manipulando
a água. – falei. Por um momento ela empalideceu. Mas depois, assumiu a mesma
expressão de sempre.
- No meu apartamento,
as 15:00 horas. – falou.
E deu as costas, já
partindo.
- Onde é seu
apartamento? – gritei, de volta.
- É só olhar na sua
agenda. – ela respondeu começando a correr.
A prova de Inglês
estava muito fácil. Bom, pelo menos essa. As questões eram apenas para
assinalar, o que dizia que ou eu chutava certo, ou errava por “acidente”.
Então, resolvi fazer tudo certinho. Não que eu não faça algo certo. Mas pelo
menos nessa prova. Talita nem Amanda
estavam lá para fazer a prova. As duas foram para a Diretoria, pois
estavam com as roupas molhadas. Até que ir salvar Talita não seria ruim, pois
eu iria faltar a prova, e poderia fazer depois. Com a autorização da Diretora.
A aula passou voando, por isso o sinal bateu rapidamente. Sabe aquele momento
no High School Music, onde todos estavam falando “Férias! Férias! Férias”,
então, nós repetimos na sala de aula. Jogamos papeis para tudo que é lado e
começamos a gritar. Não, a professora não nos impediu. Ficou foi rindo da nossa
felicidade.
Procurei por Talita,
mas ela não estava mais no colégio. Nem sei pai. Não acredito, ela foi capaz de
me deixar no colégio? Como eu vou pra casa dela, agora? Minha condução estava
quase saindo, quando me lembrei do que Amanda disse. “Na sua agenda”. Peguei
minha agenda de dentro de minha bolsa. Lá, bem na letra A, estava o nome Amanda
Sant’Anna, escrito estranhamente com uma cor de caneta azul clara, que parecia
a cor do mar. O número do telefone móvel e o nome da rua. O estranho, era que
só havia o nome da rua. Nenhum número ou bairro. Ela deveria morar num
condomínio, para não dar o número da casa. E bem em baixo, sua marca
registrada. O Splash. Era somente uma onomatopéia “Splash”, com uma ondinha ao
lado. Mas era como sua marca para saber se realmente fora ela que escreveu.
Entrei na van. Fiquei
somente olhando para o endereço. Rua da Casa do Protetor. Nunca havia ouvido
falar naquela rua. Nem queria saber o que ela fazia. Mas que tinha algo
estranho nela, havia. As meninas do fundo da van fofocavam e tagarelavam coisas
sobre uma novela. Não queria nem saber. Em casa, não tínhamos TV, então eu
nunca sabia de nada que estivesse na atualidade. O que era, as vezes, chato e
constrangedor.
Nem percebi a van
parando em frente as kit-nets da Rua 81. Desci, arrastando a mochila do banco e
segurando a agenda de mau jeito. Sim, Sandra quase me expulsou de casa quando
cheguei. Mas o que me deixou surpresa, não foi sua atitude, e sim, quem estava
na kit net com ela. Um homem barbudo, com uma camiseta cor de vinho, e uma
calça jeans azul escura. Ele estava sentado no sofá, e o batom da boca de
Sandra estava todo borrado. O que não era boa notícia. Entrei arrombando a
porta entreaberta. Meu pai não estava lá. Ignorei o estranho no sofá e entrei
no meu quarto. Derrubei-me na cama, e bufei. Agora teria de agüentar Sandra
vinte e quatro horas por dia. Ainda não acreditava que Talita havia mesmo feito
aquilo comigo. Só porque eu não havia pulado na água para ir buscá-la? Que
depressão!
Fiquei de minuto em
minuto esperado dar quinze horas. Parecia uma eternidade. Sandra bateu na minha
porta, dizendo que o jantar estava pronto. Mas eu preferiria comer na casa de
Amanda. Mesmo que eu tivesse certeza que Amanda teria envenenado a comida. Mas,
quando finalmente quinze horas chegou, sai de meu quarto. E quase sai de casa
sem tirar o uniforme. Coloquei uma roupa de verão, quando voltei novamente para
dentro de meu quarto. O homem estranho na sala havia ido embora. Mas isso ainda
não queria dizer que eu ficaria de bico fechado. Com certeza não. Peguei minha
mochila, coloquei absorventes e alguns amarradores, vai que eu precisaria
amarrar o cabelo. E também coloquei uma bola de futebol e uma passagem de
ônibus. Eu não sabia onde era a Rua dos Protetores, nem muito menos o ônibus
que deveria pegar, mas iria perguntar no terminal do ônibus, para alguma
mocinha que fica te perguntando “Posso ajudar?”. Será a primeira vez que eu
digo “sim”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário