sábado, 27 de outubro de 2012

Capítulo 1



Capítulo 1
A Piscina Engole Minha Melhor Amiga

Ninguém merece acordar pela manhã para ir à escola um dia antes de serem as férias de Julho. Não que as férias fossem ruins, nunca. Mas ir a escola sabendo que no dia seguinte eu ficaria em casa, só me dava mais vontade de ficar em casa. Mas Sandra nunca me deixaria ficar na cama. Já havia usado o truque de ficar doente na semana passada. E que eu estava com cólicas na segunda. Nossa, meu estoque de idéias acabaram! Não sei como me livro disso. E se eu matar aula... A Diretora me mata. Sei que vou passar só com um milagre. É a metade do ano, mas eu ainda preciso de uns 200 de nota para passar de ano. Isso é muito para quem tirou na prova de 10.0 Uma nota parecida com isso: 1.2. Sim, tirei doze numa prova de cem. Isso não foi minha pior nota no ano. Mas que se dane eu quero mesmo perder essa maldita bolsa de estudos que meu pai arranjou, pra voltar pro colégio público. Odeio isso de ter que usar saia no uniforme e não poder prender os cabelos porque mostra os ombros. Mas que raios de sensualidade têm nos ombros! E olhe que as irmãs são até legais... bem, elas são muito legais, mas em comparação às regras...
Sandra me gritou para levantar novamente. Não, Sandra não é minha mãe. Ela nem se quer gosta de mim. E eu não gosto dela. Novidade. Madrasta má, e a pobrezinha aqui. Bom, não que eu ligue muito por quem meu pai se apaixona, mas fala sério! Tinha que ser justamente a Sandra! Mas tudo bem. Estas férias eu vou passar na casa da Talita. Isso já muda minha vida. E muito. Meu pai é um homem trabalhador e sempre trás todas as semanas o dinheiro para que Sandra compre nossos alimentos e o que precisamos. Mas ela prefere comprar roupas e sapatos para ela, e diz que eu como no colégio. Muito engraçado, pois no meu colégio nada é de graça. Às vezes eu penso que aquele colégio é como um assalto. A mensalidade é muito grande, e tudo que você vai fazer de legal (Comer, ir para passeios na Chácara, ou qualquer outro lugar).
Sem contar que a condução também é paga. Meu pai paga para que eu não tenha de ir ao Colégio de ônibus. O que é muito perigoso. Principalmente quando o colégio é bem no centro de Brasília. Temos que usar saia, como já mencionei, e os ombros também não podem aparecer. O tênis tem que ser preto e não se podem usar saias que são menores que a altura dos joelhos. O nome do Colégio é Centro Católico Para Meninas de Brasília (ou CCC). Eu sei, um nome muito original. Mas ele faz sucesso. É considerado o melhor colégio de Brasília. O CCC é o colégio em que meu pai sempre sonhou em me por. E é o colégio em que eu menos quero estudar. Sabe, peruas e patricinhas estudam aqui. Mas não as patricinhas comuns. Filhas de empresários muito famosos. Sobrinhas do Prefeito... Só gente muito rica. Coisa que eu nem de longe sou. Mas, para eu não me sentir tão excluída assim, também têm uma garota lá que não é de alta classe, como eu. Talita Gregore. Ela é meio que... A filha do zelador. Não, ela é totalmente a filha do zelador. Sim, todo mundo não gosta do pai dela. Bom, nem eu. Ele é meio chato e alem disso, é o único funcionário homem do colégio. Mas eu tento ser legal com ele. Talita também nem sempre tem o que comer em casa. Mas ela tem um pai e uma mãe que a amam muito. Uma coisa que eu não tenho. Talita é meio gordinha. O que não a deixa feia. Mas acho que as meninas da sala não gostam disso. Mas tudo bem, eu não preciso ligar para o que elas acham. Como Talita disse para eu fazer. Mas é difícil. Principalmente por que eu sou a única amiga dela. E isso gera fofocas a meu respeito, também.
Levantei da cama e consegui me arrastar até o banheiro do corredor. O cheiro do pão recém-assado invadia a casa toda. Será que Sandra acordou de bom humor hoje e lembrou de comprar alguma coisa para eu comer: Acho que isso deve ser alguma coisa que ela quer conseguir e que eu ou a única que pode dar a ela. Se for isso, é uma chantagem que eu posso usar contra ela.
Olhei para o espelho. Uma menina de cabelos ruivos no estilo daquela princesa do filme “Valente”. Olhos cansados e sonolentamente azuis. Um nariz um tanto arrebitado, que não combinava com suas treze sardas em volta dele. Eu odeio minhas sardas. Mas também odeio maquiagem, por isso não posso escondê-las usando pó branco. Tirei uma remela de meu olho e bocejei. A tortura. Molhei meu rosto. A água mais fria que eu já havia tocado. Parecia que minha pele estava sendo cortada por lâminas. Passei sabonete no rosto. O cheiro me enjoava, mas era o que tínhamos. Molhei novamente o rosto. A coisa que eu mais odeio na vida é a água. Pode estar fria ou morna. Até mesmo pelando. Mas eu odeio água. Mas isso não é motivo para eu não tomar banho! Eu sou muito limpinha, obrigada. Sai do banheiro e fui comer o pão que cheirava tão bem. Comi com gosto. Não havia jantado na noite passada, por isso estava morrendo de fome agora. Não havia manteiga ou requeijão, ou qualquer outra frescura. Era somente o pão, puro. Mas para quem nunca tem o que comer de manhã, ou é a primeira vez no ano que come pão que não está duro, está muito bom. Na verdade, está ótimo. Acho que Sandra estava feliz hoje pois eu ia para a casa da Talita depois da aula, e só voltaria para casa depois das férias.
- Já fez suas malas? - perguntou.
- Fiz ontem à noite. – falei com a boca cheia de pão.
- Hum. – resmungou como se não quisesse saber quando eu  havia arrumado, somente se havia arrumado.
Não havia mais nada para tomar, a não ser a água da torneira. Mas tinha sempre um gosto meio estranho, por isso eu só tomava água na escola. Limpei as migalhas que ficaram presas na minha boca e corri para o quarto. Eram 6:43, com quarenta e três minutos passam correndo! Tirei minha camisola e coloquei a saia do colégio, que era azul marinha e com a insígnia do colégio. A camiseta era branca com um detalhe amarelo e a insígnia o colégio. Não precisava colar o sutiã, pois havia dormido com ele, para ganhar tempo. Comece a pentear os cabelos com a escova. E logo meu cabelo armado num caminho de ratos estava tão reto quanto um daqueles soldados da Inglaterra. Amarrei os cabelos num rabo-de-cavalo não muito alto. E peguei minha mochila. Estava mais pesada do que todo o meu material junto. E olhe que eu carrego muito material. Minhas roupas de verão estavam dentro da mochila, então tive que me acostumar com o peso a mais nas costas. Quando sai do prédio das kit nets, notei que havia cometido um enorme erro saindo de casa sem a jaqueta de couro que havia ganhado de Talita. Ela era muito quentinha, e estava muito frio hoje.
Fiquei sentada no ponto de ônibus até minha condução chegar. Era uma van toda cromada, com as rodas grandes e sempre limpas. A propaganda do colégio e vidros com sufilme mais escuro que carvão. Quando a porta se abriu, senti o quentinho que estava lá dentro. Sentei-me na poltrona ao lado de Talita. As outras poucas meninas que iam com a condução do colégio estavam sempre na parte de trás do veículo. Quem o dirigia era sempre o pai de Talita. A mochila de minha amiga estava ainda maior que a minha. Talvez por que havia algum trabalho para fazer que eu não houvesse lembrado de fazer. Ela estava segurando um pacote de Cheetos e as pontas dos seus dedos estavam laranja.
- Quer um pouco? - ela ofereceu.
- Não, eu comi em casa.
- Ah, hoje a sua madrasta comprou comida? - ela perguntou.
Encolhi-me na poltrona. Aquilo não era assunto para as outras meninas ficarem conversando por ai. Principalmente aquelas meninas. Às vezes Talita ignorava tanto essa coisa de ser pobre que não prestava atenção quando dizia alguma dessas coisas em voz alta. Acho que ela ainda não sabia que eu me importava com isso.
- Fale mais baixo... – pedi.
Talita deu de ombros e continuou a comer seus salgadinhos. Sua boca estava cor de laranja, e tinha farelo até mesmo nos fios de seus cabelos cacheados e castanhos-chocolates. E sua pele morena estava coberta de migalhas. O agasalho de lã também não foi deixado de lado, e a cor amarelada já estava ficando alaranjada. Parecia que alguém havia dado um banho de Cheetos em Talita. Mas quase sempre ela trazia algum salgadinho para a escola. E sempre ela se sujava. Seu pai não sabia que ela trazia tantos salgadinhos assim para a escola. Mas eu não contava a ele. Assim ela não contava para as professoras que eu colava nas provas delas.
O trajeto foi tranqüilo. Acho que era mais por causa de hoje ser um feriado nas outras escola público, um feriado que já emenda nas férias. Muito pelo contrário da minha, que não deixa a gente faltar as aulas, mesmo que seja o feriado de Dia Das Crianças. Bom, esse tudo bem, por que também é o Dia da Aparecida. Mas eu não sou de uma família tão religiosa assim. A van logo chegou ao estacionamento do colégio. O barulho do cascalho embaixo das rodas já nos anunciava isso.
- Acho melhor você soltar o cabelo. – falou o pai de Talita quando abriu a porta para as meninas saírem de dentro da van.
Não discuti com ele. Eu sabia que ele me entregaria para a Orientadora quando eu virasse as costas. Então soltei o cabelo do rabo-de-cavalo. Eu odiava o jeito que meu cabelo ruivo era lisíssimo. Até invejava um pouco o cabelo crespo de Talita. Mas ela me dizia que eu tinha muita sorte de ter meu cabelo tão liso assim. Eu não pensava assim. Mas também não sabia como era ter que cuidar de um cabelo crespo, então não fiquei questionando-a.
Desci da van. O Sol ofuscou um pouco minha visão, mas logo me acostumei ao cenário. Não estava tão frio assim, como estava antes. O Sol já brilhava e o sinal bateu logo. Às vezes, em dia de pico no centro da cidade, chegávamos atrasadas na escola. Mas hoje foi tudo tranqüilo. Porque metade de Brasília estava em suas casas dormindo, enquanto eu e mais umas duzentas meninas iam para a escola.
Talita me puxou em direção a sala de aula. Era revisão para a prova de Inglês, que seria depois de duas aulas. Mas a professora sempre revisava para quem estivesse em duvida. Bom, eu estava com duvidas em toda a matéria. Bom, eu não sabia por que tinha que saber sobre a história dos Estados Unidos. Muito menos, por que eu nem iria usar isso na minha vida. Bem, só se eu fosse fazer intercâmbio lá, o que não era uma opção descartada. Desde que eu tinha ns dez anos, sempre quis ir para Nova York, Manhattan, e essas cidades assim. Nova Jersey... Bom, voltando ao assunto de que eu não sabia nada sobre a matéria da prova. Talita estava atenta ao que a professora dizia. Ela gostava sempre de responder às perguntas das professoras. E isso a tornava uma espécie de Nerd-Não-Nerd. Sei que você está se perguntando se isso existe. Mas se você conhece alguém que sabe tudo sobre a matéria e que estudou para a prova, mas não tira as melhores notas, então você conhece alguém Nerd-Não-Nerd.
- O período em que os Ingleses estavam de olho na América, descoberta pelos espanhóis, gerou conflitos entre os mares, causando as viagens clandestinas... – Aquilo parecia mais uma aula de História!
Fiquei arrancando a tampa da caneta o tempo todo. Atenta para escrever algo em que a professora dissesse: “Vai cair na prova”. Pelo menos nessa prova eu não havia bolado nenhum método para colar. As outras meninas estavam enrolando do jeito que podiam. O tempo passava devagar enquanto eu tentava pegar algumas coisas para decorar na hora da prova. O relógio apontava oito horas quando o sinal bateu. As outras duas aulas foram somente para conversar, já que não teria nenhuma matéria. Talita não parava de falar em como havia programado tudo o que iríamos fazer durante as férias. Em como iríamos acampar, em como iríamos ver o filme Amanhecer Parte 2 nos cinemas... Eu não ligava muito para isso. Por mim, um bom passatempo era ficar assistindo filmes da Sessão da Tarde. Que quase sempre se baseavam em A Lagoa Azul, ou A Volta da Lagoa Azul. Então, eu basicamente sabia tudo o que fazer quando me perdesse em alto mar ou caísse de um navio.
Fiquei pensando que eu não iria ver meu pai nos fins de semana. O que seria muito ruim, pois meu pai só aparecia em casa aos finais de semana, para ficar comigo os dois dias inteiros. O que era muito legal. Eu chamava de “Dias Legais Com o Papai e Sem a Sandra”. Nós geralmente íamos ao Shopping. Embora, geralmente, nunca comprávamos nada, pois nossa condição financeira não era boa para essas coisas.
Nem percebi o tempo passar tão rápido. Será que é assim mesmo: Quando precisamos que o tempo passe rápido, ele fica lento. Quando estamos nos divertindo ou fazendo algo interessante, ele passa voando. O recreio começou. Mas meus pensamentos ainda estavam na última vez em que eu e meu pai havíamos saído para passar um dia no Shopping. Nós tomamos sorvete e conversamos muito. Quando Talita me tirou de meus pensamentos. Ela puxava meu braço freneticamente, falando que não queria perder a fila para a Cantina. Falei que ela poderia ir para o Refeitório sem mim, e se sentar no pé da árvore em que nós sempre nos sentávamos. Eu sabia que ela só iria falar sobre as nossas férias. E eu mal sabia que nem precisaria ir a essa tal expedição até a casa de Talita.
Fui para o banheiro. Ele era sempre limpo. E como só havia meninas no colégio, só havia um banheiro também. Ele tinha azulejos rosa bebê e branco creme. O piso era parecido com mármore, mas era só uma imitação. As torneiras eram sempre brilhantes, e o espelho nunca estava embaçado. Mas hoje o banheiro não estava normal. Eu sentia uma umidade diferente no ar. Um cheiro de água salgada... e a voz que eu mais odiava no mundo.
- Haha, estou indo muito bem, minhas notas estão muito altas... – era Amanda.
Ai, com eu odiava aquela voz! Amanda Sant’Anna é a menina CDF da sala. E ela não tem amigos. Mas ela não tem amigos, não por que ela não é sociável, e sim por que ela é uma chata metida que esfrega na sua cara que é melhor que você em tudo. Bom, como sempre dizem. Quando você vê que é bom em alguma coisa, chega um japonês. Amanda é mestiça. Tem os cabelos escorridos como os meus, e os olhos escuros como a noite. Parecia que ela estava dando descarga. Mas ela falava como se tivesse mais alguém dentro do banheiro com ela. Escondi-me no banheiro ao lado. Ela falou mais algumas coisas que eu não entendi como “Protetor” e “Acho que não é ela”. Quando saiu do banheiro, não parou para lavar as mãos. Esperei alguns segundos para sair de trás da porta do meu banheiro. O banheiro estava quieto. Decidi ignorar isso. Talvez ela só estivesse falando com seu ou pai ou sua mãe ao celular.
Talita já me esperava impacientemente ao lado da árvore onde sempre lanchávamos. Ela havia comprado um salgado assado. O que era quase uma rotina. Por ser filha de um funcionário do colégio, ela podia anotar o nome junto com o que havia pegado, em vez de pagar direto. No fim do mês seu pai pagava sua conta. O que era bem grande. Uma vez Talita gastou 80,00 só em lanches e refrigerantes. Não sei por que, mas hoje ela não havia comprado refrigerante, o que era um milagre.
- Quer um pouco? - Talita ofereceu. Mas decidi rejeitar.

Não havia muito que falar. Até pensei em contar a ela sobre o que eu havia visto e ouvido no banheiro, mas Talita me chamaria de louca. Ela é uma das únicas garotas que não acha Amanda Sant’Anna uma bruxa. O que é bem estranho.
Começamos a andar por ai. E decidimos ir para o berçário, ver os bebês fofinhos. Não queria pensa na prova, e nem nas férias sem meu pai. Muito menos em como teria de agüentar Talita falando sobre como seria legal todas as nossas férias juntas. Às vezes, aquela gordinha era chata. Mas os bebês estavam lindos como sempre, pelo menos. Perto deles, havia um parquinho, somente do berçário. E nele, uma piscina. Não entendo como bebês fofos e pequenos tem uma piscina, e nós não. Pelo menos podíamos passear por perto dela. Para variar. Talita começou a tagarelar em como seria muito legal a primeira noite em que eu posaria na casa dela. Já estava cansando. Quando avisto minha salvação. Amanda Sant’Anna.


Amanda estava andando pela beirada da piscina, também. E parecia tão pensativa que nem havia prestado atenção em nós. Não sei se Amanda tinha alguma irmãzinha bebê no colégio, ou se simplesmente também gostava de passear por lá, mas estava perto do berçário, o que me deixava preocupada em relação à saúde dos bebês. Fingi também não estar notando-a. e nos esbarramos “sem querer”. Ela me lançou um olhar de desacordo e já ia me agredir verbalmente.
- Olhe por onde anda! Eu quase caio na água! – reclamou.
- Assim como quase caiu na patente? - perguntei, deixando Talita calada.
- Como é que é? - Amanda não entendeu as minhas claras palavras.
- Você-Não-Conseguiu-Se-Afogar-No-Sanitário? - Falei separadamente para ver se ela entendia a minha língua, ou se só falava cobranês mesmo.
- Ahn...- ela se engasgou sem sua própria língua. – é... Bem...
- Você estava fazendo o que? - perguntei.
Uma expressão de alívio passou pelo seu rosto, mas logo se foi. E sua expressão de soberania voltou. Eu odiava aquela expressão. Era meio que inveja, nojo e desprezo, tudo junto. Ela era bonita, sim, mas ainda era chata. Bom, agia como uma, pelo menos.
- Vamos, Aliss. – chamou Talita.
- Não, Tata, eu ainda quero saber, o que Amanda Sant’Anna estava fazendo falando sozinha no banheiro.
Amanda me discriminou com os olhos. Sabia que ia começar a discutir que não havia ido ao banheiro hoje, e que Talita deveria andar com boas companhias em vez de andar com uma débil mental, como eu. Bom, eu sabia ignorar aquela cobra, mas algo no fundo de mim me dizia que eu deveria saber o que tanto Amanda escondia. Não que eu soubesse que Amanda escondia algum segredo. Mas ela era estranha. E isso já me fazia ficar com medo dela. Algo que raramente costumo achar das pessoas.
- Talita, por que você não leva sua amiguinha com você agora? - Amanda falou sorrindo falsamente.
- Claro. – concordou Talita. – Vamos, Aliss!
- Não! – me virei para Talita. – Você pode parar de bancar a “mamãe”, por favor:
Talita fechou o rosto. Mas eu não havia dito nada de errado! Mas ela virou as costas para mim e se pôs a andar. Claro, algo de muito estranho tinha que acontecer. A água saiu de dentro da piscina, fazendo um tubo, daqueles que os surfistas costumam surfar. Aquilo foi rápido, mas eu vi a mão de Amanda na direção de Talita. Tudo que eu precisava confirmar fora confirmado naquela hora. Amanda era sim uma bruxa. Uma bruxa muito má.


Minha amiga estava dentro d’água, e eu não podia fazer nada. Eu odiava a água. Não podia pular naquela piscina para trazê-la de volta para a margem da piscina. Talita estava a se afogar, e eu fiquei sem saber o que fazer. Até eu ver a cena mais estranha do mundo. Amanda pulando na piscina para buscar Talita. As duas chegaram a margem, encharcadas. Talita agradeceu muito a Amanda. E quando me viu, só pode sair sem nem dizer uma palavra. Espere, eu sou amiga de Talita! Mas sou eu que tenho que salvá-la! Não Amanda! Aquilo estava muito estranho. Primeiro Amanda faz a piscina sugar Talita, e de repente ela estava  salvando-a. Agora que Talita não acredita em mim que Amanda é doida. E isso me deixa um tanto chateada. Se eu conhecia bem aquela Talita, ela nunca mais me perdoaria. E era tudo culpa de Amanda. Como sempre.
- O que você fez? – gritei para Amanda.
Ela deu de ombros e colocou uma mecha do cabelo louro para o lado.
- Eu ajudei a Talita. O que os amigos fazem. – ela respondeu querendo provocar.
- E-eu não podia entrar na água. – me defendi.
- E por que não? – perguntou Amanda.
Aquela garota já estava me irritando. Queria lançar uma bola de fogo na cara dela! Mas como esse é o começo, eu ainda não sabia sobre mim. Por isso, eu não podia fazer isso. Mas... Quando eu descobrir quem eu realmente sou... Aguardem-me.
- Eu vi você manipulando a água. – falei. Por um momento ela empalideceu. Mas depois, assumiu a mesma expressão de sempre.
- No meu apartamento, as 15:00 horas. – falou.
E deu as costas, já partindo.
- Onde é seu apartamento? – gritei, de volta.
- É só olhar na sua agenda. – ela respondeu começando a correr.


A prova de Inglês estava muito fácil. Bom, pelo menos essa. As questões eram apenas para assinalar, o que dizia que ou eu chutava certo, ou errava por “acidente”. Então, resolvi fazer tudo certinho. Não que eu não faça algo certo. Mas pelo menos nessa prova. Talita nem Amanda  estavam lá para fazer a prova. As duas foram para a Diretoria, pois estavam com as roupas molhadas. Até que ir salvar Talita não seria ruim, pois eu iria faltar a prova, e poderia fazer depois. Com a autorização da Diretora. A aula passou voando, por isso o sinal bateu rapidamente. Sabe aquele momento no High School Music, onde todos estavam falando “Férias! Férias! Férias”, então, nós repetimos na sala de aula. Jogamos papeis para tudo que é lado e começamos a gritar. Não, a professora não nos impediu. Ficou foi rindo da nossa felicidade.
Procurei por Talita, mas ela não estava mais no colégio. Nem sei pai. Não acredito, ela foi capaz de me deixar no colégio? Como eu vou pra casa dela, agora? Minha condução estava quase saindo, quando me lembrei do que Amanda disse. “Na sua agenda”. Peguei minha agenda de dentro de minha bolsa. Lá, bem na letra A, estava o nome Amanda Sant’Anna, escrito estranhamente com uma cor de caneta azul clara, que parecia a cor do mar. O número do telefone móvel e o nome da rua. O estranho, era que só havia o nome da rua. Nenhum número ou bairro. Ela deveria morar num condomínio, para não dar o número da casa. E bem em baixo, sua marca registrada. O Splash. Era somente uma onomatopéia “Splash”, com uma ondinha ao lado. Mas era como sua marca para saber se realmente fora ela que escreveu.
Entrei na van. Fiquei somente olhando para o endereço. Rua da Casa do Protetor. Nunca havia ouvido falar naquela rua. Nem queria saber o que ela fazia. Mas que tinha algo estranho nela, havia. As meninas do fundo da van fofocavam e tagarelavam coisas sobre uma novela. Não queria nem saber. Em casa, não tínhamos TV, então eu nunca sabia de nada que estivesse na atualidade. O que era, as vezes, chato e constrangedor.
Nem percebi a van parando em frente as kit-nets da Rua 81. Desci, arrastando a mochila do banco e segurando a agenda de mau jeito. Sim, Sandra quase me expulsou de casa quando cheguei. Mas o que me deixou surpresa, não foi sua atitude, e sim, quem estava na kit net com ela. Um homem barbudo, com uma camiseta cor de vinho, e uma calça jeans azul escura. Ele estava sentado no sofá, e o batom da boca de Sandra estava todo borrado. O que não era boa notícia. Entrei arrombando a porta entreaberta. Meu pai não estava lá. Ignorei o estranho no sofá e entrei no meu quarto. Derrubei-me na cama, e bufei. Agora teria de agüentar Sandra vinte e quatro horas por dia. Ainda não acreditava que Talita havia mesmo feito aquilo comigo. Só porque eu não havia pulado na água para ir buscá-la? Que depressão!
Fiquei de minuto em minuto esperado dar quinze horas. Parecia uma eternidade. Sandra bateu na minha porta, dizendo que o jantar estava pronto. Mas eu preferiria comer na casa de Amanda. Mesmo que eu tivesse certeza que Amanda teria envenenado a comida. Mas, quando finalmente quinze horas chegou, sai de meu quarto. E quase sai de casa sem tirar o uniforme. Coloquei uma roupa de verão, quando voltei novamente para dentro de meu quarto. O homem estranho na sala havia ido embora. Mas isso ainda não queria dizer que eu ficaria de bico fechado. Com certeza não. Peguei minha mochila, coloquei absorventes e alguns amarradores, vai que eu precisaria amarrar o cabelo. E também coloquei uma bola de futebol e uma passagem de ônibus. Eu não sabia onde era a Rua dos Protetores, nem muito menos o ônibus que deveria pegar, mas iria perguntar no terminal do ônibus, para alguma mocinha que fica te perguntando “Posso ajudar?”. Será a primeira vez que eu digo “sim”.


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